Três em cada dez brasileiros (30%) têm como principal sonho de consumo comprar uma casa ou mobiliar e reformar o imóvel próprio, de acordo com pesquisa divulgada recentemente pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) para traçar o perfil comportamental e hábitos do consumidor.
Mas, além da questão patrimonial, a pesquisa constata que muitos consumidores são movidos por impulsos, e não têm maiores cuidados em relação a só gastar dentro dos limites do próprio orçamento. Caso, por exemplo, dos 47% de entrevistados que admitiram ter comprado, por impulso, algum produto que nem sequer chegaram a usar.
A questão orçamentária não inibe também os 62% que, antes mesmo de receber o salário, já pensam nas compras supérfluas que farão no mês seguinte, nem os 59% que se presenteiam apenas porque “eu mereço”. O mesmo percentual dos que admitem ter ficado “no vermelho” porque compraram algum bem sem necessidade imediata.
Tem, ainda, os que são movidos pela aparência. Caso dos 33% que confessaram ter dado presentes acima de suas posses para impressionar; dos 43% que quando compram um produto recém-lançado, fazem questão de exibir a novidade; ou dos 21% que em companhia de amigos ou parentes em compras, extrapolam o próprio orçamento apenas para “não fazer feio”.
Também segundo a pesquisa, realizada com 610 entrevistados em 27 capitais brasileiras, o percentual dos brasileiros que planeja o investimento para moradia sobe para 32%, entre os entrevistados das classes C,D e E.
Já os de maior renda, realizar uma viagem desponta como o principal sonho de consumo, por 18% dessas pessoas porque a viagem é vista de vivenciar novas experiências, enquanto os de menor renda a casa própria representa segurança e independência.
Na avaliação do gerente financeiro do SPC Brasil, Flávio Borges, a tendência ao consumo imediatista e impulsivo por uma parcela expressiva da população é reflexo das recentes alterações na estrutura de renda do brasileiro e no acesso ao crédito.
“Com desemprego em baixa e reajustes salariais acima da inflação, temos assistido a uma crescente inserção do consumidor ao mercado de crédito, o que garante mais poder de compra. O problema é que a melhora da condição financeira da população nem sempre vem acompanhada de uma maior consciência sobre como gastar esse dinheiro“, explica Borges.
De igual maneira, em cada dez entrevistados, pelo menos seis (59%) admitem que já ficaram no vermelho por adquirir algum bem que não precisavam ter comprado. Segundo Borges, esse comportamento contribui para o elevado nível de endividamento (comprometimento do orçamento com dívidas a pagar) da população.
“Várias das conclusões do estudo reforçam a constatação de que o brasileiro tem satisfação em gastar o seu salário logo que recebe. Com uma visão mais imediatista para a realização de seus sonhos e desejos, ele acaba pagando a mais em forma de juros embutidos nos financiamentos. Isso explica o fato de o Brasil ser um dos países que menos poupam no mundo”, diz Borges.
Novos hábitos e sonhos de consumo
Entre os principais gastos declarados que os entrevistados tiveram ao longo de 2013, a maior parte se refere á itens básicos de primeira necessidade, como alimentação (67%) e moradia (49%).
Os eletrodomésticos da chamada linha branca, como geladeira, fogão, máquina de lavar e micro-ondas, que com as desonerações fiscais nos últimos anos passaram a ser comercializados a preços mais baixos, foram citados pelos entrevistados como os principais itens de consumo que passaram a fazer parte das listas de compras em 2013 (12% dos casos).
Já em relação ao planejamento para compras futuras, três em cada dez brasileiros (30%) tem como seu principal sonho de consumo adquirir a casa própria ou reformar e mobiliar o imóvel que já possuem.